quinta-feira, 19 de novembro de 2009

The Who - Live at the Young Vic Theater '71

 "I think these hands have felt a lot,
I don't know, what have I touched,
I think these eyes have seen a lot,
I don't know, maybe they've seen too much.

I think this brain has thought a lot,
Searching, trying to find the crutch,
I think this heart has bled once too often,
This time it's bled a bit too much.

Too much of anything, too much for me,
Too much of everything gets too much for me."



Quando a gente tá meio na bad nada melhor do que fazer o que gosta e olhar um pouco pra dentro, hoje é um desses dias, então resolvi escrever sobre o Who, minha banda favorita, como muitos sabem. Alguém pode se perguntar se essa é a banda favorita desse japonês por que ele não posta mais, o grande motivo seria que eu pretendia comprar os bootlegs oficiais, converter para mp3/320kbps e, aí sim, postar aqui, mas a grana tá curta e esses bootleg custam uma nota. Um deles eu já tenho, o "Isle of Wight Festival(1970)", mas deixei na casa de um amigo que vai me devolver nas férias, aí eu posto. Depois ainda tem o "Live at Leeds(1970)", considerado o melhor álbum ao vivo do rock de todos os tempos, e esse que estou postando agora de 1971.
O grande diferencial desse bootleg com relação aos outros dois é que se trata de quase todas as músicas do álbum mais maduro da banda, o "Who's Next". A princípio era um projeto para um terceiro filme, o "Lifehouse", inspirado em uma casa/estúdio no qual Townshend, Daltrey, Moon e Entwistle recebiam amigos músicos e faziam jams que até Deus lamenta não ter gravado. Mas acima de tudo a idéia levaria a um enredo que ilustraria modos de se alcançar a liberdade e a essência mágica dos instantes tão eternos quanto passageiros através da arte e da música. Covenhamos, algo dificil de se retratar. Acontece que o produtor Kit Lambert teve que ser internado por causa da heróina e o projeto não se concluiu.
Muitas das músicas que fariam parte do "Lifehouse" acabaram presentes no álbum "Who's Next", mas muitas nunca foram lançadas em versões de estúdio. Há Alguns anos algum maluco encontra as gravações(mastertapes) do show no Young Vic Theater no lixo(a gravadora havia se desfeito delas) e logo caiu na net, mais tarde o Who teve que pagar para recuperar esses tapes e, aí sim, foi lançado junto com uma edição especial do "Who's Next" remasterizado em um encarte duplo. Custa uma bela nota e no Brasil só importado, quem quiser pode comprar e me dar de Natal! heheheh... Mas enfim, fiquem espertos que assim que eu tiver esse CD faço uma conversão para substituir esse pirata que vós posto hoje.
Bom, agora vamos as músicas, vou tentar fazer umas viagens com a psicologia fenomenológica; a primeira faixa "Love Ain't For Keeping", uma música maravilhosa liricamente, que na versão de estúdio tem menos a pegada do The Who do que nessa ao vivo, graças principalmente a presença do baixo. Fala do amor verdadeiro, o "amor de Anna" talvez como ilustrou o mestre Bergman, aquele que transcende a paixão possessiva e "dá condições à pessoa amada de ser aquilo que ela pode ser" para citar o Nichan. Ou seja, você pode ser você mesmo com segurança e certeza de que eu ainda estarei aqui, livre de modelos transferenciais a despeito de Freud e Lacan, libertando o ego que estava preso em sua idenficação com aquela persona confortável que lhe foi dada/oferecida como um prato feito(hauihuiah essa foi boa) e encontrando a totalidade do ser. Acha que isso é possível? Aposto minha vida que sim.
Depois "Pure and Easy", uma música de passagens variadas, solos absurdos e batera que não para, escrita por Townshend depois de ter sido iniciado pelo mestre hindu Meher Baba. Fala da vibração pura e simples presente em cada ente, cada molécula do universo, e do homem que encontra essa nota, essa vibração e depois atentando para os atos corruptores dessa vibração como a guerra, a matança e a fome. "O problema da fome é viver apenas para comer" como disseram uma vez, ou seja quando o homem, com medo, foge da angústia de ter que sempre denovo habitar seu lugar. O medo talvez seja uma atitude melancólica também presente na música "Time is Passing", uma das que faria parte do "Lifehouse" e nunca foi lançada em versão de estúdio, mas foi tocada nesste show.
É como presenciar uma sessão de blues com improvisos, o músico as vezes tende a reproduzir frases que em sua primeira aparição o levaram a uma certa elevação espiritual, por ter sido expressão direta do que ele estava vivendo. Nessa insistente tentativa de reprodução ele perde não só essa vivência como a a que estaria por vir, já que está focado no passado glorioso. Isso é humano, não devemos ser tão críticos a respeito, o existir e o insistir, sem perceber esse contraste talvez não perceberíamos nada ou cairíamos na loucura. Os momentos não autenticos fazem com que valorizemos o autêntico. "Find it! I've got to hear it all again! Blind to it! As my tears fall again... It's only by the music, I'll be free!"
O show também conta com músicas antigas e excelentes, como "Young Man Blues", "I Don't Even Know My Self", "Water", uma melhor que a outra, não necessariamente nessa ordem! "My Generation" que pelo visto eles já estavam cansados de tocar daí fizeram uma bem simples nesse show.
A música "Road Runner" composta e gravada originalmente pelo mestre do blues Ellas McDaniel (vulgo Bo Diddley) em 1959. Durante a explosão do R&B britânico no começo dos anos 60 muitos grupos gravaram covers das músicas de Diddley, incluindo os Rolling Stones, The Animals, The Pretty Things, The Zombies, e o The Who. (De fato, foi esta mesma música que o grupo tocou no teste com Keith Moon no Oldfield Hotel em Greenford, em abril de 1964). [trecho extraído e editado do site The Who Brasil]
"Too Much of Anything", uma música completa e muito bem trabalhada; "tudo prende minha atenção por um instante", penso quando escuto. "Getting in Tune", uma música genial e exigente para todos os instrumentos e vocais, as linhas de baixo dela também merecem grande destaque. Álias, em geral vale a pena prestar atenção nos poucos momentos em que Townshend não toca e deixa o Moon e o Entwistle levarem o ritmo.
Para não extender muito vou terminar falando de "Naked Eye", outra genial, a letra fala do ostracismo em que as vezes o homem se coloca, apesar de no fundo saber de sua simbiose com tudo e com todos ele se mantém dentro de seu "quarto" e sonha sozinho, se é que sonha. "the world begins behind your neighbor's wall". Nessa versão os back vocals estão mais presentes e, como em todas, o solo do Townshend muito bom, divinamente acompanhando pelo baixo e frequentemente intimado pela bateria.
Um abraço a todos e bom feriado!

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Qualidade Musical: 10
Grau de Loucura: 10
Qualidade de Áudio: 8,5 (175-200kbps)

Setlist:
Love Ain't For Keeping    2:58
Pure And Easy    6:01
Young Man Blues    4:48
Time Is Passing    3:59
Behind Blue Eyes    4:49
I Don't Even Know Myself    5:43
Too Much Of Anything    4:21
Getting In Tune    6:42
Bargain    5:46
Water    8:20
My Generation   2:58
(I'm A) Road Runner    3:14
Naked Eye    6:22
Won't Get Fooled Again    8:51

Agradecimentos ao Ticano, irmão do Matheus, que um dia me passou não só este como muitos outros shows e compilações do The Who. 

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